Casa de Cultura
Lembrando as tradicionais festas de Nossa Senhora dos Navegantes
Se pudéssemos retroceder no tempo, certamente presenciaríamos uma das mais marcantes demonstrações de fé dos habitantes de Pelotas: a grandiosa celebração em honra a Nossa Senhora dos Navegantes, que neste ano completa 92 anos de existência. A primeira edição ocorreu em fevereiro de 1931, por determinação das autoridades eclesiásticas e portuárias da nossa cidade.
No ano seguinte, em 1932, o idealizador e principal organizador da festa, Monsenhor Luiz Gonzaga Alfino Chierichetti, liderou os festejos. Ele não mediu esforços para transformar essa celebração dedicada à mãe dos navegantes em um dos principais eventos religiosos de Pelotas e até mesmo do sul do estado. A Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, conhecida popularmente como Igreja do Porto, em estreita parceria com as autoridades portuárias de Pelotas e comissões de festeiros, proporcionou aos pelotenses, ao longo das décadas, essa magnífica manifestação de fé e devoção a Nossa Senhora dos Navegantes.
Em meio a um porto próspero, grandes indústrias, empresas, fábricas e estabelecimentos comerciais, os trabalhadores portuários uniram-se às lideranças paroquiais para prestar homenagens à sua protetora, invocada por essa dedicada classe laboral. A primeira grande festa ocorreu em janeiro e fevereiro de 1932, quando já estavam entronizados o andor em forma de barco em miniatura e a bela imagem de Nossa Senhora dos Navegantes.
O barco miniatura, meticulosamente elaborado e repleto de detalhes, foi encomendado pelo generoso Benemérito e destacado membro do porto de Pelotas, o Senhor Natálio Zunino. Este, por sua vez, incumbiu o Chefe da Carpintaria do Porto de Pelotas, Sr. "Delício", de criar uma réplica da embarcação em madeira naval, com acabamentos minuciosos. A embarcação miniatura, com pouco mais de dois metros, foi abençoada por Monsenhor Chierichetti, que atendeu ao pedido dos trabalhadores portuários e batizou a embarcação com o nome "São Francisco", em homenagem ao trapiche existente naquela época, o qual levava o nome do santo padroeiro da cidade.
A imagem, também rica em detalhes, acompanhava o andor em forma de barco, sendo conduzida da Igreja Matriz do Porto. Acompanhada por diversas autoridades eclesiásticas, municipais, militares e portuárias, além do grande público que lotava a Igreja Matriz e ocupava as ruas da zona portuária, a procissão partia solenemente da Igreja Matriz, percorrendo as ruas Gomes Carneiro, Almirante Barroso e Benjamin Constant até o cais do porto de Pelotas. Lá, era recepcionada por uma multidão incalculável. Ao longo do percurso, a venerada imagem recebia as mais efusivas demonstrações de fé e carinho de um povo piedoso.
Crianças vestidas de anjos, inúmeras congregações, irmandades, confrarias e outras organizações religiosas formavam dois grandes corredores com suas bandeiras e estandartes. Os mais variados cânticos marianos ecoavam pelas ruas do porto de Pelotas, enquanto a procissão fluvial levava consigo dezenas de embarcações ornamentadas e repletas de fiéis. Ao mesmo tempo, em terra firme, uma multidão aguardava o retorno da procissão fluvial, que conduzia a imagem de Nossa Senhora para abençoar as águas do São Gonçalo.
Ao regressar ao Cais do Porto, a imagem era recepcionada pela banda musical, que executava o tradicional "Cisne Branco". No cais, a venerada imagem era calorosamente aplaudida e, com grande emoção, conduzida por marinheiros e fiéis. O trajeto de retorno da imagem representava um dos momentos mais marcantes para todos os devotos: as embarcações apitavam em homenagem à Senhora das Águas, a grande procissão tomava conta da Rua Benjamin Constant, as indústrias e firmas apitavam em reverência à sua protetora, e as ruas, adornadas pelos estivadores, proporcionavam um ambiente sugestivo para esse grande momento. A parada principal ocorria em frente à Capitania dos Portos, onde as autoridades portuárias proferiam discursos em homenagem a tão significativa data.
A imagem seguia pela principal rua, onde os moradores enfeitavam suas casas e, com imagens sacras, formavam altares em suas janelas e portas, aguardando ansiosos pela passagem da procissão. O cortejo continuava até a Rua Álvaro Chaves, com inúmeros cânticos, ladainhas e orações. Quando a procissão adentrava a Rua Gomes Carneiro, era impossível não se emocionar ao ouvir os sinos da Igreja Matriz do Sagrado Coração de Jesus repicando, anunciando a chegada de Nossa Senhora dos Navegantes. A banda executava o tradicional cântico "Louvando Maria" e, nesse momento, o clero, reunido junto à imagem peregrina, abençoava todos os fiéis da cidade.
O grande público era convidado a retornar à praça do porto, onde o momento de confraternização aguardava a todos: a grandiosa quermesse de encerramento dos festejos. Inúmeras bancas de gastronomia, brincadeiras, centenas de melancias pela praça do porto, banda musical, apresentações e o tradicional "pau de sebo" - uma brincadeira cujo vencedor era premiado. Tudo isso aguardava o povo fiel que, dedicado à mãe de Jesus, encerrava mais um ano da grandiosa festa religiosa popular no porto de nossa cidade, culminando com a tradicional queima de fogos.
Com certeza, abençoados e guiados pela mãe dos navegantes, o povo fiel encontrava nessa grandiosa demonstração de fé a força necessária para continuar suas jornadas de trabalho nas inúmeras firmas que sustentavam suas famílias e contribuíam para o crescimento da economia local, através do próspero porto de Pelotas e de nossa cidade, sob as bênçãos de Nossa Senhora dos Navegantes.
Victor Hugo Siqueira
Presidente da Casa de Cultura de Pelotas
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